A cena é conhecida: você sai para tomar uma com os amigos no bar e depois de alguns chopinhos começa a suspeitar que aquela loira da mesa seguinte te encarou. Mais algumas rodadas e você tem certeza que ela está afim, e talvez vá lá "surpreendê-la" com um beijo roubado. A evolução de um bom flerte, não? Pois não é o que Antonia Abbey, psicóloga da Wayne State University, em Detroit, concluiu num recente estudo realizado com 425 homens nos EUA.
Segundo seu trabalho, que envolveu duas fases, 43% dos entrevistados admitiu ter pressionado uma mulher a fazer sexo pelo menos uma vez na vida desde os 14 anos, e este mesmo grupo também afirmou confundir o comportamento de mulheres com sinais de desejo. "Há uma porção de motivos para pensar que o álcool permite que as pessoas ultrapassem os limites", comentou a psicóloga ao portal científico norte-americano LiveScience, explicando ainda que a incompreensão dos sinais de sedução "parece criar essa pressão sexual".
Nos EUA, há cerca de 207.754 novas vítimas de assédio sexual por ano em média, sem contar os casos de abuso de menores de 12 anos, de acordo com a Rede Nacional de Incesto, Abuso & Estupro. A maior parte das vítimas é de mulheres, embora os homens também sejam visados.
A pesquisa de Abbey cobriu desde a personalidade dos entrevistados até suas atitudes e crenças sobre as mulheres e o álcool, além de investigar se eles mesmos foram abusados sexualmente alguma vez. Um terço dos indivíduos que participaram do estudo disse ter tentado coagir uma mulher a transar no ano anterior à pesquisa, 10% pressionou verbalmente uma mulher ao sexo mesmo sabendo que ela não estava interessada, e 5.4% declararam ter estuprado uma pessoa inconsciente ou debilitada. O restante dos homens pesquisados afirmou ter tentado contato sexual direto ou estupro.
A pesquisadora acredita que este comportamento seja fruto da falta de informação aliada ao abuso de bebidas alcóolicas. "Precisamos intervir na educação de crianças que apresentam esses problemas para que elas não se aprofundem em padrões negativos", conclui Abbey.
No Brasil, a situação também não é nada animadora, e a violência contra a mulher parece ser um problema mais urgente do que os casos de estupro. Segundo dados registrados pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo entre setembro e novembro, 17.904 mulheres foram agredidas por homens e pelo menos 16.835 sofreram ameaças na capital e no interiro do estado. No mesmo período, 130 casos de estupro consumado foram registrados, sendo que 72% dos assédios foram cometidos contra pessoas debilitadas ou vulneráveis.