Quantas vezes não nos pegamos "fechando e abrindo a geladeira a noite inteira" como já disse Cazuza, ou ligando a televisão sem vontade de assistir qualquer programa? Pode parecer piada, mas demandas e contingências da vida urbana às vezes exigem muito mais do que podemos dar, e nem sempre o desfecho de nossa carreira coincide com nosso bem estar.
O termo "estresse", que na física significa desgaste, foi usado pela primeira vez na revista Nature pelo médico Hans Selye, e desde sua inclusão no meio social ele ajudou a explicar diversos tipos de comportamento. Mas hoje sabemos que a evolução do estresse pode desencadear, entre outras complicações, a Sindrome de Burnout, que embora tenha sido descoberta nos anos 70 pelo psicanalista norte-americano Herbert Freudenberger, atualmente vem mostrando sua gravidade.
Um nível muito alto de atenção sobre diversas atividades pode "levar ao esgotamento físico e mental do profissional, gerando a síndrome", explica Mariah Bressani, psicóloga, Master Coach Senior e especialista em Coaching Assessment.
Em 2005, depois de realizar experiências em Londres, o designer Marcelo Bohrer percebeu que "a questão fundamental que nos mantém presos ao estilo de vida acelerado é o fato de que o fazer nada passou a ser visto como um pecado, e por isso não conseguirmos mais parar, desligar, desconectar", comenta ele. Depois de sofrer um burnout, Bohrer ficou tão impressionado que criou o Clube de Nadismo há cinco anos, cujos 7 mil sócios se reúnem mensalmente em praças e parques para fazer nada durante 45 minutos.
Bressani avalia a prática como uma ótima forma de prevenção da doença, pois num mundo onde há pressão constante por desempenho excelente e maximização de resultados, não há espaço para "desligar-se". "Neste contexto de vida da atualidade, – onde a pessoa tem que ter cada vez mais informações, desempenhar cada vez melhor e também apresentar resultados mais e mais eficazes – se ela não se permitir 'recolher-se' para si mesmo, num ato de 'fazer nada', através da meditação ou de um lazer descompromissado, por exemplo, é alto o risco de desenvolver estresse ou a Síndrome de Burnout", alerta a psicóloga.
Segundo ela, diversos fatores podem contribuir para o desenvolvimento deste tipo de colapso, como o perfeccionismo, elevado nível de ambição, autoexigência e dedicação combinados com uma alta demanda de trabalho e pressão para que não se cometa erros. Embora Bohrer afirme que a síndrome não tem maior incidência sobre em homens ou mulheres, ainda não existem dados oficiais sobre a doença na população brasileira.
Quem não consegue se organizar para tirar um tempo livre na rotina, o clube de Bohrer envia a programação de seus eventos aos sócios por e-mail e não há qualquer custo para participar. De qualquer forma, podemos concordar de bom grado que quase uma hora diária de ócio completo não soa nada mal, não é mesmo? Afinal de contas, até o grande Cazuza, autor de "Vida Fácil", sofria de stress nervoso.