Já dissemos uma vez que, mesmo para os menos interessados em moda masculina, vale a pena prestar um pouco de atenção nas semanas de moda. Esse ano, na SPFW, a Cavalera apresentou sua coleção outono-inverno na Estação da Luz e para entreter os convidados antes do desfile, convidou um grupo de 15 dançarinas burlescas para se apresentar. E, os fashionistas que nos desculpem, mas quem vai se preocupar com as tendências quando se pode apreciar pin-ups dançando de lingerie?
Nós dedicamos nossa atenção às dançarinas! E conversamos uma delas para saber mais sobre essa interessante arte que veste moças voluptuosas de corseletes, cintas-ligas e meias 7/8. Tatiana Marx, 30 anos, se divide entre diversas atividades durante o dia (fotógrafa, maquiadora, modelo, cabeleireira), mas à noite é Marilyn Kotz e sobe aos palcos para se apresentar dentro de uma taça de champanhe.
Tatiana explica o que é o burlesco: “Uma mistura de apresentação teatral com dança sensual (que muitas vezes implica em um striptease), que teve o seu auge nas décadas de 40 e 50, e descende diretamente da Commedia dell’árte. Nova York, Los Angeles e São Francisco são hoje as cidades que mais contribuem para o revival do Burlesco, que teve como protagonistas principais Dita Von Teese e Catherine D'Lish.”
E, adaptado aos dias atuais, recebe agora o nome de neo-burlesco, “livre de preconceitos quanto a forma do corpo de quem o faz, e composto por muitas artes performáticas, interdisciplinares, incluindo desde o strip-tease, humor negro, cabaré, números musicais, mágica, entre outras.”
Mas se também tem strip-tease, no que um show de burlesco se diferencia? “Na performance burlesca, as dançarinas não tiram toda a roupa”, esclarece a dançarina. “O burlesco é arte de burlar, nesse caso é a arte de provocar, é a promessa não cumprida da nudez total, feita com muita sensualidade e graça ao mesmo tempo, diferente de um strip-tease comum onde toda roupa é tirada e a sensualidade é descarada. Mas eu sou uma stripper... burlesca.”
Confira nosso bate-papo com Tatiana!
- Como e quando você começou a trabalhar como dançarina de burlesco?
Venho a alguns anos trabalhando como modelo alternativa, e me considero uma pin-up dos dias atuais. Sempre acompanhei a história das pin-ups e elas estão diretamente ligadas a arte do burlesco. A dança burlesca foi uma consequência do meu trabalho nesse universo alternativo, o burlesco no Brasil acaba sendo underground. Na busca pela construção de uma imagem descobri a dança burlesca que tem sido uma experiência reveladora.
- Deve ser caro manter todo o figurino...
O Burlesco é chique! Uso adereços vistosos, muitas plumas, paêtes, corsets, pasties (mamileiras), e claro as ligas e lingeries que são bem caras. Sou do tipo "faça você mesma" e acabo produzindo alguns dos meus figurinos. E o trabalho ainda não é bem remunerado, principalmente nas casas noturnas; as festas fechadas já são mais rentáveis. Conforme vamos ficando mais conhecidas do público, ganhamos melhor e conseguimos mais patrocínios e apoios.
- Como as pessoas do seu convívio (família, amigos, colegas) enxergam seu trabalho?
Para a maioria das pessoas é um choque, pela falta de conhecimento sobre o que é o burlesco, elas acabam sendo preconceituosas. Mas no geral quando veem as apresentações ficam apaixonadas pela arte. E minha família me apoia demais e sempre que pode vai aos meus shows.
- Você é casada, tem um relacionamento sério?
Sou casada com um rock star, meu marido canta na noite paulistana há 18 anos e já está acostumado. Ele gosta muito do que faço e também sempre que pode vai me assistir, inclusive nós nos apresentamos algumas vezes juntos, e foi muito bom.
- As dançarinas adotam um nome como performers. Como você escolheu o seu?
É uma tradição do burlesco. A escolha foi fácil: Marilyn de Marilyn Monroe que é um ícone das pin-ups e bombshells, ela é um furacão loiro com um ar inocente. Já o Kotz é uma abreviação do sobrenome do meu músico preferido, um gênio do rock atual, Richie Kotzen. Me inspiro muito nele, é um cara com um talento absurdo que se produz sozinho e nunca nega sua personalidade musical. Minha personagem no burlesco é rock n'roll e nada melhor do que essa influência.
- Quem são as suas inspirações no palco?
Nas produções glamorosas, Dita Von Teese; na originalidade, Dirty Martini; no talento, Inga Ingenue; na contravenção, Masuimi Max; e na ousadia, Michele L'amour.
- Você tem uma música favorita para se apresentar?
Sempre me apresento ao som de Rock e Blues.
- Por que a taça de champanhe?
O burlesco pra mim está diretamente ligado às pin-ups, e sempre que penso em pin-ups, me vem à memória a clássica ilustração da pin-up dentro de uma taça de Martini, se banhando na bebida. Quer coisa mais provocante do que uma mulher se banhando na sua bebida preferida? Além de ser sexy é luxuoso e poderoso poder ter seu próprio brinquedinho. Minha bebida preferida é o Cosmopolitan, que se bebe na taça de Martini, mas devido à dificuldade em se fazer uma taça gigante nesse formato, optei pela de champanhe, que não é nada mal, né? Além disso, fora do Brasil, as burlescas costumam usar elementos de cena nos seus shows que passam a ser sua marca registrada. Já que era para começar no Burlesco, pensei, vou começar em grande estilo.
- Quais lingeries você mais gosta de usar no palco? E fora dele?
No palco, as mais vistosas, chiques e fatais, meias 7/8, ligas e muito brilho. Fora do palco sou mais meiga e uso calcinhas de bolinhas ou com babados, opto sempre pela mais confortável sem perder a sensualidade.
- O que separa a Tatiana da Marilyn?
A Tatiana é uma mulher que nasceu e foi criada para ser como todas as outras, que vive num mundo comum e muitas vezes hipócrita. A Marilyn Kotz é meu ID, ela não tem ego nem superego, ela não tem limites, veio ao mundo para acontecer.