O que não faltam são justificativas para ser solteiro hoje em dia. Do ditado “antes só do que mal acompanhado” até a constatação mais que comum feita por Cazuza quando falou em “solidão a dois”, muitos homens não querem mais saber de apostar na loteria do amor. Afinal de contas, quem tem grandes amigos nunca está só e o que não falta nesse mundo são mulheres dispostas a relacionamentos casuais.
Para alguns, a condição de solteiro proporciona a vantagem de ser livre para curtir a vida e seus prazeres, numa espécie de prolongamento da juventude. Nunca se viu tantos trintões, quarentões e até cinquentões disponíveis nas baladas. Situação também comum no universo feminino nos dias atuais. Com relação a outros, já “aposentados” da farra, o que vale é a paz e a liberdade para fazer o que quiser ou mesmo ficar em casa de pernas para o ar sem uma pessoa regulando sua vida.
É o caso do dublador e tradutor carioca Fernando Damasceno, de 47 anos, que, depois de dois breves casamentos, não quer mais saber de trocar alianças. Na concepção dele, ser descomprometido tem tantas vantagens que é difícil saber por onde começar.
“Na minha visão, é muito melhor. Acordo a hora que eu quero; posso passar a madrugada na sala sem ninguém gritando do quarto: “Vem dormir!”; durmo absolutamente à vontade e espalhado na cama; não há a menor possibilidade de discussões (o que é certo acontecer pelo menos uma vez por semana quando se é casado); ouço o meu bom e velho rock and roll na altura que eu quero e na hora desejada; assisto aos filmes que me agradam e nunca a comédias açucaradas; não preciso dar satisfação a ninguém sobre aonde vou nem com quem”, listou.
Ainda de acordo com o Damasceno, cada dia é uma nova surpresa, ao contrário de quando se é comprometido.
“Era uma condição (o casamento) que me obrigava a fazer programas enfadonhos, como visitar a família da esposa. Além disso, mantenho a forma física, pois já foi comprovado que quando se é casado, come-se mais. Hoje, chego do trabalho e posso relaxar no escuro, ouvindo uma boa música. Quando era casado, assim que abria a porta, a televisão estava sempre sintonizada em algum programa idiota de moda ou de fofocas e as luzes bem acesas. Por tudo isso e muito mais, nunca mais serei um homem casado”, garantiu o dublador.
Já o advogado paulistano Tiago Lucas, de 25 anos, sempre pula fora de um caso quando a coisa dá indícios de que pode ficar séria. Afinal, ele não quer abrir mão de aproveitar ao máximo a juventude, uma fase da vida que, em sua correta avaliação, é impossível de se recuperar com o tempo. Fora isso, o trauma causado por seu último compromisso ajuda a criar essa “blindagem”.
“Eu sofri muito com o término do meu noivado. É uma sensação que não quero ter de novo. E eu sou um cara que gosta de balada, de festas eletrônicas e micaretas. Não sou de repetir figurinha. Para mim, a coisa é boa quando se resolve na mesma noite. Um relacionamento não te dá nenhuma garantia. Não quero mais perder tempo em algo que pode ser em vão”, afirmou o advogado.
Ele conta que, no último mês, por pouco, começou um namoro. Mas, no momento em que foi jogado na parede para tomar um decisão, a razão foi mais forte que a emoção.
“Escapei por pouco. Foi uma mulher que me fez sentir algo diferente. Há muito tempo não saia mais de uma vez com alguém. Mas a minha convicção de que ser solteiro é muito melhor nunca foi esquecida. E quando a coisa começou a ficar arriscada, decidi pular fora. Quando se corta o mal pela raiz no início, a gente se poupa de qualquer sofrimento. Só sei que já estou na ativa de novo e pronto para várias festas que vão rolar por aí até o réveillon”, afirmou o rapaz.
O músico mineiro Paulo Marra, 32, tem vontade de encontrar uma pessoa bacana para dividir o teto, mas ele espera que isso ainda demore um bom tempo para acontecer. Ele entende que a solteirice, principalmente na idade em que se encontra, tem sido fundamental para dar uma guinada na vida profissional.
“Ter alguém é muito bom. Mas o amor e o compromisso criam uma gangorra emocional em nossa vida. As crises e as brigas me faziam perder o foco das coisas. Daí eu pensava que é um estresse desnecessário. A verdade é que o amor traz alegrias e tristezas num nível fora do controle. Estar sozinho é dirigir numa Autoban. Eu sei que é uma zona de conforto, mas, no momento, não há nada melhor do que estar com os meus esforços direcionados na conclusão dos projetos pessoais. Se já é difícil fazer as coisas darem certo, muito mais complicado é quando você tem o adicional de aporrinhação de uma relação”, disse o músico.