Nascemos e crescemos num mundo onde ver novela é coisa de menina, mais que isso, coisa de mariquinha. Durante os anos de ginásio e colegial era impensável dividir com os colegas de classe o gosto pela novela das oito. Mesmo que a protagonista fosse a gata da vez. Mas ao que tudo indica, a geração dos noveleiros enrustidos está chegando ao fim, e agora homens do país inteiro podem afirmar que gostam de novela sem que sofram represália alguma.
Recentemente venho presenciando um fenômeno no mínimo curioso. Carminhas e Comendadores chegaram definitivamente à mesa do bar, e ao que tudo indica entraram de vez em pauta. Embora a santíssima trindade, mulher, futebol e - no meu caso - rock n’ roll nunca saia de moda, é comum que, mesmo que timidamente, comentários referentes à novela, inclusive spoilers, estejam presentes em mesas masculinas.
Eu reconheço que sou réu culpado. Vira e mexe assisto uma novelinha aqui, outra ali, e só não pude acompanhar Império até o final por falta de tempo para isso, mas passei noites em frente à TV bambando a cada aparição de Maria Clara (Andrea Horta) e Maria Isis (Marina Ruy Barbosa), e torcendo fervorosamente para que o comendador recuperasse seu império.
E fazendo uma breve reflexão, cheguei à conclusão que ser noveleiro é algo que trazemos da infância. Se aos 10, 12, 15 anos assumir que você gostava de novela era o suficiente para ser condenado a guilhotina, hoje eu vejo que muitos dos carrascos que afiavam as lâminas no passado também desfrutavam do seu prazer proibido no mais profundo sigilo.
Grande parte dos meus amigos, algo em torno de 40% deles, possue um extenso repertório de novelas em seu curriculum, entre elas algumas figuram com mais frequência nos papos de botequim, como: Quatro por Quatro; A Próxima Vitima; O Rei do Gado e a não tão antiga, mas já clássica Avenida Brasil.
Com isso concluo que nós homens sempre tivemos certo fascínio por novelas, no passado talvez fosse uma espécie de desejo proibido, nos anos subsequentes se tornou nada mais que uma grande chacota, eu mesmo já sacaneei muito amigo por gostar da novela X ou Y, mas a verdade é que independe de ser um filme, um seriado ou uma novela, toda obra de ficção bem construída cumprirá bem o seu papel de entreter ou - na melhor das hipóteses - aguçar nosso senso questionador e ver aquilo como um reflexo ou uma sátira dos nossos tempos.
Por isso eu vou dar uma espiadinha na nova novela e espero que esta seja mais uma obra antológica da teledramaturgia brasileira e que me divirta por horas a fio. E se meus amigos me sacanearem farei um texto expondo todos àqueles que gostam de novela mexicana, afinal de contas, triste é não fazer - neste caso assistir - o que gosta por medo dos comentários de terceiros.
E para concluir, Fernandinha Vasconcellos, por meio desta venho confessar ao país inteiro que sofri de um forte amor platônico por sua personagem Malu na novela Sangue Bom.
Fato é: grude no sofá e faça da novela um momento seu com o controle remoto. Indo mais fundo: por que o cara viciado em seriados é diferente do cara que não perde um capítulo da novela?
Encerro o texto com essa questão aos tiradores de sarro!
Sobre Marcel Costa
Amante do bar, da música e da literatura. Mais retardado que fantástico.
Toca tão mal quanto escreve. Acredita que no final do dia é tudo por ela.
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