Antes de iniciar este relato, preciso ser escancaradamente sincero com os possíveis leitores: nunca fui um aficionado por carros. Nunca senti prazer em “tunar” um; de “rebaixar” o possante; de investir (ou perder?) tempo do meu final de semana para “dar um trato” no veículo. Em suma: do meu primeiro ao último carro, passando pelo famoso Golf cor cereja, pensei sempre – e apenas – que ele pudesse me levar do ponto “A” ao “B”, em uma cidade de grandes dimensões, como São Paulo, e com enorme déficit no transporte público (como São Paulo, infelizmente, também tem). Carro para mim, portanto, nunca foi sinônimo de status (afinal, o que esperar de alguém que teve um Golf cereja?!), estilo ou mesmo um sonho de consumo. Servia apenas como uma facilidade de locomoção.
Isto posto, vamos aos fatos: em janeiro de 2016, completamente esgotado de tanto tempo perdido com o trânsito paulistano e, confesso, incomodado com tantas contas a pagar relacionadas ao meu carro, tomei a decisão de abandonar o uso de um veículo particular. Como não sabia, obviamente, se me acostumaria a esta nova realidade, não o vendi na primeira esquina. Como período de teste, combinei com minha esposa que o deixaria o carro por um mês na garagem e, com base no que acontecesse nestes 30 dias, voltaria à mazela de ficar enfurnado em um veículo ou daria o passo definitivo para a “independência automotora”.
Eis que chego a 1 ano e meio sem o carro e (muito) mais feliz. Obviamente, os pontos que detalho abaixo são absolutamente pessoais, intrínsecos ao lugar onde moro, à distância que tenho que percorrer diariamente, à minha profissão, a onde fica a empresa em que trabalho. Portanto, “leia com moderação” e pondere à luz de sua própria realidade, ok?
#1 – GASTO MENOS TEMPO PARA IR E VOLTAR AO TRABALHO
Moro na Zona Leste de São Paulo (Jardim Anália Franco) e trabalho na Avenida Paulista. Meu tempo de deslocamento médio Casa-Trabalho-Casa perfazendo esta ida e volta de carro era de, aproximadamente, 2 horas e meia a cada dia (estou aqui somando os dois trechos). Atualmente, sem carro, faço um pedaço do caminho através de aplicativos de mobilidade (seja com táxi ou veículo particular) e, outra parte, utilizando o metrô. Me “dou ao luxo” de sair de casa e ir diretamente para a Linha Verde pois esta já se encaminha, sem necessidade de trocar de trem, à Avenida Paulista. Desço, literalmente, na porta do escritório. Sendo assim, meu tempo de deslocamento caiu para 1 hora e meia diária (ida + volta). Redução de 40%! Nada mal. Ganho cerca de 1 hora por dia para fazer algo mais gostoso ou produtivo do que acelerar e frear: fico um pouco mais com minha família, me dedico mais no trabalho e vou à academia com maior frequência.
#2 – MEU VOLUME DE LEITURA AUMENTOU EXPONENCIALMENTE
Se ficar em um elevador por alguns segundos já é uma situação entediante e, às vezes, constrangedora (não à toa já adquirimos o hábito, nos edifícios comerciais, de olhar para a telinha superior com notícias e fotos), imagine passar bons minutos no metrô apenas olhando seu entorno e esperando – sem sucesso – ver o tempo passar. Por conta disto, desde o início desta minha mudança de hábito sempre tenho a tira colo um bom livro. Desta maneira, os cerca de 40 ou 50 minutos que passo diariamente no metrô se tornaram minha dose diária de leitura, que é uma das minhas paixões (sobra tempo até para fazer vídeos com algumas dicas). Uni o útil ao agradável, voltando a ler com mais intensidade (quem tem filhos pequenos em casa entende esta dificuldade). A cultura agradece!
#3 – CONSIGO ME DESLOCAR DE MANEIRA MAIS RÁPIDA (E, MUITA VEZES, MAIS ECONÔMICA) ÀS REUNIÕES
Olhando em perspectiva, devo ter uma média semanal de 8 a 10 reuniões externas. E, para cada uma delas, quando ia com meu carro, enfrentava a maldita saga: pedir o carro no estacionamento; depois, enfrentar um trânsito difícil em São Paulo (engarrafamento + motoboys alucinados + um monte de outras pessoas com pressa); chegando ao destino, procurar estacionamento e, na sequência, uma vaga. Para voltar ao “QG”, os mesmos transtornos. E, além do mais, quem mora em um grande centro como SP, sabe que cada estacionada hoje em dia não sai por menos de R$ 20 ou R$ 30 – sendo otimista.
Bem, nesta minha fase de “independência veicular”, aproveitando principalmente os apps de mobilidade (e, em menor número, trem/metrô), chego muito mais rapidamente aos compromissos, colocando os e-mails e conversas em dia ao longo do trajeto, e desembarcando sem qualquer preocupação de encontrar uma vaga ao chegar ao destino. Ademais: fazendo uso de diversos vouchers de desconto que estes aplicativos oferecem (esta “guerra” entre eles é ótima para o consumidor), em diversas oportunidades vou e volto destes compromissos gastando menos do que o valor que pagaria no estacionamento. É o que se poderia chamar de “bom e barato”.
#4 – ECONOMIZO MEU RICO DINHEIRINHO
Chegamos a uma das partes que realmente importam para a maioria dos homens: economizar! A matemática aqui deveria ter uma série de variantes para ser absolutamente precisa (há meses em que os apps de mobilidade oferecem muito mais vouchers de desconto, o valor do combustível varia ao longo do ano etc), mas procurarei pintar um quadro mais amplo e “grosseiro” no intuito de mostrar que, em meu caso particular, houve uma concreta e tangível economia ao ficar sem carro e me deslocar de maneira distinta no dia a dia.
Vamos aos custos mensais médios com o carro que eu possuía:
- Combustível: R$400,00
- Seguro: R$200,00
- IPVA: R$230,00
- Manutenção periódica: R$100,00
= TOTAL: R$930,00 mensais*
* sem considerar, como alertei acima, algumas variáveis como: multas (“quem sai na chuva é pra se molhar”), depreciação do valor de mercado do carro, consertos pontuais (um vidro rachado, um retrovisor arrancado), dentre outras.
Agora, meus custos mensais pela mudança de hábito:
- Apps de mobilidade: R$600,00
- Metrô: R$170,00
= TOTAL: R$770,00 mensais*
* novamente, sem considerar eventuais descontos via vouchers dos aplicativos, aumento nas tarifas do metrô e etc.
Em resumo: uma economia mensal de 17%, ou R$160,00. Acha pouco? Dá R$1.920,00 ao ano podendo servir para uma viagem ou mesmo o início de um pezinho de meia.
#5 – QUANDO PRECISO REALMENTE DIRIGIR, O FAÇO COM MUITO PRAZER
Não possuir carro não significa que abandonei totalmente o volante. Aos finais de semana utilizo o veículo de minha esposa junto com as crianças, se precisamos ir a uma festa (eu iria facilmente usando um app, mas minha mulher...) ou mesmo viajar, por exemplo. Se antes, ao dirigir diariamente em um trânsito nervoso como o de São Paulo, eu queria mais é distância de carro aos finais de semana, recentemente cheguei até a encarar uma viagem a Curitiba, sem sofrimento (confesso que até com uma certa dose de prazer ao volante).
Mas, decerto, nem tudo são flores. Por depender de transporte público, já passei por alguns “perrengues”, seja por problemas técnicos no metrô, uma grevezinha dos metroviários para animar a semana ou mesmo um “vizinho” de vagão mal educado.
Já me encharquei também em algumas outras oportunidades, afinal, vivo na “Terra da Garoa” – que poderia bem mudar para “Cidade das Tempestades”–, e enfrentei algumas dificuldades cotidianas com os aplicativos – e motoristas – de transporte.
No entanto, o resultado destes prós e contras, na minha concepção, foram positivos. Muito positivos. E, muito honestamente, não me passa pela cabeça hoje voltar a ter um carro “pra chamar de meu”.
Sobre Rodrigo Moreno
Um dos fundadores do AreaH, é pai da Sofia e da Bianca, são paulino que torce para o Uruguai. Workaholic e grisalho desde jovem.
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