“A tireoide é responsável pelo controle do metabolismo e o mau funcionamento dela pode desencadear uma série de consequências para todo o corpo”, afirma o dr. Roberto Elias Miguel, especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço, com ênfase para Oncologia; Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Doutor em Medicina pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Entenda exatamente como ela funciona e quais as alterações mais comuns apresentadas pela glândula.
O que ela é:
A tireoide é uma glândula em formato de borboleta que fica localizada na frente da laringe, no local conhecido como “gogó”. Ela é uma das maiores glândulas do corpo e em um adulto pode chegar a pesar até 25 gramas.
Como ela funciona:
A tireoide é responsável pela produção e armazenagem dos hormônios tireoidianos, chamados popularmente de T3 e T4. Essa produção é controlada por outra glândula, a hipófise, que fica localizada no cérebro. Já a hipófise é controlada pelo hipotálamo, uma importante região cerebral. Sendo assim, o hipotálamo envia informações à hipófise, que controla a produção de T3 e T4 pela tireoide.
Quando liberados, esses hormônios atuam em quase todas as partes do corpo, agindo no coração, rins, fígado e interferindo no crescimento e desenvolvimento infantil, na fertilidade, no peso, no humor e até no movimento do intestino. Por isso, uma lista de incômodos e problemas podem dar sinais de que o funcionamento da tireoide está incorreto. E engana-se quem pensa que as mulheres estão livres de problemas, na verdade elas são as que mais sofrem com alterações na tireoide.
“Não se trata de uma doença exclusivamente restrita ao sexo feminino, mas é quase como se fosse: para cada grupo de cinco mulheres com disfunção da glândula, apenas um homem tem o mesmo problema”, explica o dr. Roberto Elias. Segundo ele, a incidência aumenta com a idade e, na faixa dos 40 anos, atinge 30% da população feminina.
Doenças mais comuns:
- Nódulo na Tireoide
Os nódulos são as lesões mais diagnosticadas na tireoide e atingem cerca de 3% da população, segundo o médico. “E na grande maioria dos casos os nódulos são decorrentes de doenças benignas que acometem a glândula, portanto nódulo de tireoide não é sinônimo de tumor maligno da glândula”, afirma ele. Hoje sabe-se que 95% dos nódulos tireoidianos são lesões benignas enquanto que apenas 5% são lesões malignas.
O diagnóstico pode ocorrer de diversas maneiras, desde o autoexame, em que o próprio paciente nota alguma alteração na glândula, até por meio de uma ultrassonografia da região. “Muitas vezes o nódulo é descoberto a partir de um ultrassom de rotina. No entanto, seus achados são muito inespecíficos para caracterização do nódulo, quanto à sua natureza”, afirma Roberto Elias. Isso significa que apenas com o exame não é possível descobrir se o tumor é maligno ou benigno.
“Por esta razão, quase todos os nódulos são puncionados, através da punção aspirativa por agulha fina (PAAF), muitas vezes direcionada pelo ultrassom”, explica ele. Sabe-se que o câncer na tireoide é uma doença rara e corresponde a 2% de todos os tumores malignos que acometem os seres humanos e que as mulheres têm três vezes mais chance de desenvolverem esse tumor quando comparadas aos homens. “A cirurgia está indicada para nódulos com mais de 2 cm, que estejam visíveis na região anterior do pescoço, que tenham sintomas compressivos ou quando existe dúvida se o nódulo é benigno ou maligno”.
Caso o resultado mostre que o tumor é benigno, o médico apenas remove a porção doente da glândula. “Nesse caso, não há nenhum prejuízo para o paciente, porque a outra metade continua produzindo hormônios em nível adequado e suficiente. Nos casos em que se suspeita de neoplasia maligna, está indicada a remoção completa da tireoide, complementada com tratamento com iodo radioativo e hormônios específicos”.
Segundo Elias, uma causa importante para o câncer de tireoide é a exposição maciça a radiações. “Relatam-se inúmeros casos nas populações sobreviventes aos ataques nucleares de Hiroshima e Nagasaki e uma incidência aumentada nas crianças que sobreviveram ao acidente nuclear de Chernobyl; outros tipos de tumores de tireoide têm origem familiar”, explica ele.
Hipertireoidismo e hipotireoidismo:
O diagnóstico dessas duas disfunções da glândula tireoidiana é feito através de exames sanguíneos laboratoriais. Os principais exames utilizados para confirmar o diagnóstico são: dosagem de T3, T4 e TSH.
- Hipertireoidismo
Ele se caracteriza pelo aumento na produção de hormônios tireoidianos e um aumento no metabolismo do organismo. A causa mais comum deste descontrole é uma doença autoimune, chamada Doenças de Graves, que ocorre quando o próprio corpo produz anticorpos que atacam o organismo.
Além desta doença, o aumento de produção de T3 e T4 pode ter várias motivações, algumas delas são passageiras, como o caso de mulheres que desenvolvem um hipertireoidismo leve ou moderado após a gravidez. Pessoas que tomam hormônios tireoidianos para o tratamento de alguma doença também podem sofre com este aumento de produção.
“Os principais sintomas da doença são: taquicardia, irritabilidade, aumento do apetite acompanhado de emagrecimento, diarreia, insônia, tremores e alterações de pele e cabelo”, afirma o dr. Roberto Elias. Segundo ele, o tratamento do hipertireoidismo consiste no uso de drogas chamadas antitireoidianas, destacando-se principalmente o tapazol e o propiltiouracil. “Nos casos em que não temos uma resposta adequada ao uso dessas substâncias podemos fazer uso da iodoterapia ou da cirurgia”.
- Hipotireoidismo:
Quando existe uma queda na produção dos hormônios tireoidianos com consequente queda no metabolismo temos o hipotireoidismo. “Os sintomas desta diminuição são: inchaço, sonolência, bradicardia, constipação intestinal”. Muito se fala sobre o ganho de peso em pessoas que sofram de hipotireoidismo, esse “ganho” é gerado pela diminuição do funcionamento do organismo como um todo, além do inchaço, que também resulta em aumento de peso na balança.
“O tratamento do hipotireoidismo é mais simples e é feito com a reposição do hormônio tireoidiano em doses adequadas para reversão do quadro”, segundo o dr. Roberto Elias. Esse tratamento na grande maioria dos casos é feito por toda a vida do paciente. “O uso correto do hormônio tireoidiano ao contrário do que muitos pensam não acarreta alteração no peso dos pacientes” afirma ele.
As pessoas que sofrem com algum tipo de distúrbio na tireoide devem ser acompanhadas de perto por um endocrinologista e, em caso de procedimento cirúrgico, o ideal é buscar a orientação de um de um cirurgião de cabeça e pescoço.