As pessoas comentam, a novela reproduz, o cinema consagra e, no fim das contas, poucas pessoas entendem do que se trata a esquizofrenia. Várias teorias ainda tentam explicar a origem do mal que acomete 1% da população mundial, ou 67 milhões de pessoas, segundo o site do hospital Albert Einstein. No entanto, muito se conquistou no campo das medidas paliativas contra a doença, embora ainda pouco se saiba como ela “funciona”.
“Os principais sintomas da esquizofrenia são delírios (pensamentos falsos), alucinações (percepções falsas), especialmente as auditivas, desorganização do pensamento (pensamento desconexo), apatia, diminuição da expressão e das emoções, entre outros. No Brasil, usamos os critérios da 10ª edição da Classificação Internacional das Doenças (CID-10), da Organização Mundial de Saúde (OMS). Os sintomas devem estar presentes pelo menos por um mês para caracterizar a doença”, explica Mário Louzã, psiquiatra, doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, médico assistente e coordenador do Projeto Esquizofrenia (Projesq) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP.
O psiquiatra salienta que hoje em dia já se sabe que há fatores genéticos envolvidos “além de possíveis alterações no desenvolvimento do cérebro durante a gestação”. A doença geralmente começa no final da adolescência, início da fase adulta, e atinge ambos os sexos de forma parecida. Na maioria dos pacientes, a doença é crônica.
Durante um surto psicótico, algumas áreas do cérebro funcionam excessivamente, o que leva a um aumento na atividade do neurotranssimor dopamina em regiões cerebrais como os lobos temporais e o sistema límbico, de acordo com o especialista. Outras áreas, como os lombos frontais, funcionam menos que o normal.
Apesar da esquizofrenia não levar o paciente à morte, o suicídio acomete cerca de 10% deles. “Por conta da doença, é frequente que os pacientes não cuidem adequadamente da saúde física e, com isso, podem desenvolver doenças cardiovasculares ou mesmo o crescimento exagerado de células”, salienta Louzã.
A esquizofrênia também fez parte da história de grandes personalidades da ciência e da arte. John Forbes Nash, matemático e Nobel de economia norte-americano, foi um deles e começou a sofrer do mal ainda enquanto estudava em Princeton. Retratado no filme Uma Mente Brilhante (2001) de Ron Howard, onde o diretor narra em detalhes o drama enfrentado pelo inventor da Teoria dos Jogos, Nash interagia com pessoas imaginárias, as quais aprendeu a “ignorar” através de tratamentos com antipsicóticos.
“O medicamento controla os surtos psicóticos e, mesmo que o paciente não apresente mais ataques, seu uso deve ser contínuo. Além disso, abordagens psicossociais também são importantes para a reintegração social e familiar do paciente”, esclarece Louzã, acrescentando que, apesar das pesquisas em curso atualmente, “ainda não há formas de prevenção da doença”.
Filosofias menos ortodoxas aos princípios ocidentais também têm sua versão sobre a esquizofrenia. O falecido ecologista e explorador norte-americano Terence McKenna, que era especialista na ontologia do xamanismo e em etnofarmacologia, tinha um discurso no mínimo curioso sobre o transtorno.
Ele defendia que a esquizofrenia é apenas um termo para formas de comportamento mental que não entendemos. Segundo o ecologista, no século XIX, designava-se qualquer tipo de tristeza, infelicidade e mal adaptação pelo termo melancolia - o que hoje chamamos de depressão bipolar. “Com a esquizofrenia é a mesma coisa”, disse McKenna durante seu excerto Eros e o Escathon (1994).
“Durante meus estudos, notei que os livros de psicologia em geral classificavam o esquizofrênico como um ser que vive num mundo de imaginação decadente, à margem de sua sociedade, incapaz de manter um emprego - pessoas que vivem imersas em seu próprio sistema de valores. E é exatamente disso que se trata. Não temos a tradição de explorar os mistérios da mente. Temos medo porque a ideologia ocidental é um castelo de cartas, muito problemática. Há uma verdadeira fobia da mente em nossa sociedade”, sugeriu o explorador.
Para ele, isso jamais aconteceria numa comunidade aborígene, por exemplo. Embora sua teoria seja acompanhada de uma crítica incisiva, suas constatações levantam uma questão tão relevante quanto a própria doença: “Se você não se encaixa, não consegue se sustentar ou é incapaz de exercer as mesmas tarefas que a maioria, você é considerado um doente e precisa ir para o hospital”, concluiu McKenna.
Ainda resta muito a conhecer com os avanços da tecnologia no ramo da saúde, principalmente quanto ao estudo do complexo cérebro humano. Diante dessas perspectivas, recomendamos sempre a consulta de um médico, caso você desconfie de sintomas recorrentes como os descritos nesta matéria. No entanto, também aproveitamos a ocasião para incentivar o pensamento pois, enquanto a ciência explora o desconhecido, gênios inovadores como Syd Barret, Kerouac e até mesmo Van Gogh continuam aparecendo, encantando e desencantando o mundo com sua arte.