Para nós, homens, a possibilidade de futuramente vir a desenvolver um disfunção erétil é uma das principais preocupações com nossa saúde sexual. Fazemos de tudo para manter o "amigo de baixo" na ativa pelo máximo de tempo possível, desde recorrer às famosas pílulas azuis antes do sexo até nos submeter a medicações e tratamentos que prometem restaurar o pênis de volta a seus dias de glória. Uma das principais causas da disfunção, contudo, ainda permanece um mistério para a maioria dos homens: o priapismo.
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Para entender melhor o que é priapismo, suas causas, consequências e possíveis tratamentos, conversamos com o Dr. Daniel Alcântara Pereira, especialista em urologia da Central Nacional Unimed.
#1 - AFINAL, O QUE É PRIAPISMO E QUAIS SÃO SUAS CONSEQUÊNCIAS?
O priapismo é uma ereção não espontânea e geralmente dolorosa, na qual mesmo ocorrendo a ejaculação, o pênis não retorna para o estado de flacidez. Já as consequências dessa ereção indesejada dependem do seu tempo de prolongação. Cerca de 95% dos casos de priapismo são classificados como isquêmicos (obstrução causada por um trombo, seja ele formado por placas gordurosas ou por coágulos sanguíneos). Passadas quatro horas no estado de ereção temos uma pressão elevada no corpo cavernoso do pênis (síndrome compartimental), que compromete a circulação podendo evoluir com disfunção erétil.
#2 - QUAIS SÃO OS TIPOS DE PRIAPISMO?
O priapismo é dividido em isquêmico (grande maioria), não-isquemico ou de alto fluxo. A causa mais frequente do priapismo de alto fluxo é o traumatismo perineal ou peniano. A lesão resulta em laceração na artéria cavernosa, levando a uma fístula de alto fluxo entre a artéria e o corpo cavernoso. Muitas vezes, há um atraso entre o trauma (duas a três semanas) e o desenvolvimento do priapismo. O tratamento do priapismo de alto fluxo não é uma emergência porque o pênis não apresenta isquemia. A melhor conduta nestes casos é a embolização arterial seletiva dos vasos lesados.
#3 - QUAIS SÃO AS CAUSAS MAIS FREQUENTES PARA A OCORRÊNCIA DE PRIAPISMO?
Nenhuma causa específica é identificada na maioria dos casos. No entanto, o priapismo isquêmico pode estar associado à anemia falciforme, discrasias hematológicas, síndromes neoplásicas e ao uso de vários medicamentos. Confira quais são os principais fatores causais potenciais para o priapismo isquêmico:
- IDIOPÁTICA
Discrasias hematológicas: doença falciforme, talassemia, leucemia, mieloma múltiplo, variante de Hb Olmsted, embolia gordurosa durante hiperalimentação, hemodiálise, deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase, mutação de Factor V LeidenInfecções (mediadas por toxinas): picada de escorpião, mordida de aranha, raiva, malária.
- DISTÚRBIOS METABÓLICOS
Amiloidose, doença de Fabry, gota.
- DISTÚRBIOS NEUROGÊNICOS
Sífilis, lesão da medula espinhal, síndrome da cauda equina, neuropatia autônoma, hérnia do disco lombar, estenose espinhal, acidente vascular cerebral, tumor cerebral, anestesia espinhal.
- NEOPLASIAS (infiltração metastática ou regional)
Próstata, uretra, testículo, bexiga, retal, pulmão, rim.
- MEDICAMENTOS
- Medicamentos vasoativos: papaverina, fentolamina, prostaglandina E1 / alprostadil, combinação de terapias intracavernosas.
- Antagonistas dos receptores a-adrenérgicos: prazosina, terazosina, doxazosina, tamsulosina.
- Ansiolíticos: hidroxizina.
- Anticoagulantes (heparina, varfarina).
- Antidepressivos e antipsicóticos: trazodona, bupropiona, fluoxetina, sertralina, lítio, clozapina, risperidona, olanzapina, clorpromazina, tiorizadina, fenotiazinas.
- Anti-hipertensivos: hidralazina, guanetidine, propranolol.
- Hormônios: hormônio liberador de gonadotropina, testosterona.
- Drogas recreativas: álcool, maconha, cocaína, crack.
#4 - O USO DE VIAGRA E OUTROS ESTIMULANTES SEXUAIS PODEM SER UM FATOR DE RISCO?
Alguns casos foram descritos em homens que tomaram PDE5Is (Viagra, Cialis, Levitra). A maioria desses homens, no entanto, teve outros fatores de risco para o priapismo e não está claro se os PDE5Is isoladamente podem causar priapismo isquêmico. O uso de PDE5I geralmente não é considerado um fator de risco isolado, podendo ocorrer após injeções intracavernosas no tratamento de disfunção erétil. O risco é maior com o uso de papaverina e menor com combinações contendo prostaglandina.
#5 - COMO É POSSÍVEL RECONHECER UM CASO DE PRIAPISMO?
Ereção persistente não espontânea e dolorosa mesmo tendo ejaculação, num prazo superior a 2 horas. O prazo ideal para procurar um serviço de emergência é de 4 horas (golden hour), mas recomenda-se manter contato com seu médico se a ereção persistir por mais de 2 horas.
#6 - O QUE FAZER EM CASOS DE PRIAPISMO?
O priapismo isquêmico agudo é uma emergência médica. A intervenção urgente é obrigatória e deve seguir uma abordagem gradual. O objetivo de qualquer tratamento é restaurar a flacidez do pênis, sem dor, a fim de evitar danos aos corpos cavernosos.
#7 - COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DE PRIAPISMO PELO MÉDICO?
Além da história clínica e da ereção persistente, o priapismo pode ser confirmado com a aspiração do sangue do corpo cavernoso que, no caso do tipo isquêmico, apresenta um sangue escuro. Esta amostra de sangue poderá ser avaliada por parâmetros gasométricos evidenciando a isquemia. Em alguns casos, podemos ter benefícios com o uso de ultrassom com doppler e ressonância magnética.
#8 - QUAL O TRATAMENTO MAIS COMUM PARA CASOS DE PRIAPISMO?
O início do tratamento do priapismo isquêmico deve ocorrer o mais cedo possível (dentro de quatro a seis horas), seguindo uma abordagem gradual. Primeiro, aspiração de sangue dos corpos cavernosos. Podem ser usados agentes vasoativos durante a “lavagem” dos corpos cavernosos. Caso ocorra falha deste método, é necessário proceder tratamento cirúrgico para drenagem do sangue. Persistindo, é indicado o uso de implante de prótese peniana.
#9 - O QUE É RECOMENDADO FAZER PARA EVITAR NOVAS CRISES DE PRIAPISMO?
Evitar fatores de risco que possam ser manipulados, principalmente os medicamentos. Pesquisar se possui anemia falciforme e ajustar melhor os medicamentos e a dose das injeções intracavernosas para o tratamento de disfunção erétil.
#10 - É POSSÍVEL TER RELAÇÕES SEXUAIS NORMALMENTE APÓS UMA CRISE DE PRIAPISMO?
Sim, desde que o tratamento tenha sido efetivo dentro de um prazo viável. O estado de isquemia resulta em necrose e fibrose do corpo cavernoso. Este mecanismo, uma vez instalado, não tem retorno. A fibrose do corpo cavernoso implicará em disfunção erétil severa, geralmente tratada com o implante de prótese peniana.
Sobre Luis Carvalho
Nerd full time, viciado em literatura, HQs, games, filmes e séries, descobriu o amor pelo jornalismo ao perceber que não sabia fazer contas.
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