Década de 1940. O Brasil ainda não havia conquistado nenhuma Copa do Mundo, o Maracanã não existia, as transmissões das partidas eram somente radiofônicas e o futebol profissional dava seus primeiros passos. Agora, imagine se fosse possível juntar num só as principais características de Cristiano Ronaldo, Edmundo, Tostão, Falcão e Roberto Dinamite. Impossível? Depende.
Tivemos um grande craque que ainda não ganhou o reconhecimento que merece, por conta de seus feitos, chamado Heleno de Freitas. O primeiro craque-galã do País, além de muito bom de bola, fazia as mocinhas da alta sociedade carioca suspirarem com seu charme.
Heleno tinha um perfil bastante singular em comparação aos jogadores daquela época. Nascido em berço de ouro, teve educação de primeira linha, tendo estudado no tradicional Colégio São Bento e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde obteve o título de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Boêmio convicto, era frequentador das melhores casas noturnas das épocas e das festas mais disputadas, sempre na companhia de empresários, juristas e diplomatas.
Mas a classe que ostentava à noite, muitas vezes, caia por terra nos gramados. Considerado catimbeiro e reclamão, o atacante não era de levar desaforo para casa. Em diversas ocasiões, teve que ser expulso de campo após ríspidas discussões com adversários. Até com companheiros do próprio Botafogo, clube de seu coração e pelo qual brilhou mais intensamente e passou a maior parte de sua carreira, ele batia boca constantemente.
Por conta de seu pavio curto, recebeu o apelido de “Gilda”, personagem interpretado pela estrela do cinema norte-americano Rita Hayworth, que o deixava furioso sempre que alguém o chamava assim. Em 1948, depois de 235 jogos e 209 gols anotados com a camisa alvinegra, ele foi negociado com o Boca Juniors (ARG), na negociação mais valiosa da história do futebol brasileiro, até aquele momento.
Mas no ano seguinte, já estava de volta ao Brasil. Desta vez, para defender as cores do Vasco da Gama. Ele fez parte do Expresso da Vitória, que contava com craques do quilate de Barbosa, Djalma, Friaça e Ademir, e ajudou na conquista do Campeonato Carioca de 1949.
Em 1951, outra aventura sul-americana. Na Colômbia, não passou nem um ano atuando pelo Junior de Barranquilla, mas foi o suficiente para que fosse homenageado com uma estátua na cidade. Ainda desembarcou na Baixada Santista para uma curta temporada com a camisa do Peixe, até encerrar a carreira no América-MG, em 1953. Pelo time rubro, ele atuou apenas uma vez, seu primeiro e último jogo no então maior estádio do mundo, o Maracanã. Mas foi expulso logo as 35 minutos do primeiro tempo, após um carrinho violento em um zagueiro do time adversário.
O destempero e o descontrole em campo já eram indício da sífilis, doença que o deixou louco. Depois de quatro anos de internação em um sanatório de Barbacena, interior de Minas Gerais, Heleno de Freitas veio a falecer no dia 08 de novembro de 1959, aos 39 anos. A causa do óbito foi paralisia progressiva.
Com a Seleção Brasileira, marcou 15 gols em 18 participações com a Amarelinha. Ainda levantou dois canecos: a Copa Roca (1945) e a Copa Rio Branco (1947).
Está previsto para novembro deste ano, o lançamento de um filme sobre a história do craque, com Rodrigo Santoro no papel principal e Aline Moraes como Ilma, esposa e grande amor de Heleno. A produção teve como inspiração o livro “Nunca Houve um Homem Como Heleno”, de Marcos Eduardo Neves.