A preocupação latente do ser humano com a saúde reflete cada vez mais nas gôndolas dos supermercados. A chamada onda light tomou conta das pessoas e da cabeça dos empresários (que enxergam grande margem de lucro no setor). A boa e velha cerveja, um dos poucos produtos que resistem ao mundo sem calorias, também não escapou e vai voltar a ser comercializada na versão light.
Recentemente, o Grupo Petrópolis, responsável pela fabricação da Itaipava, apresentou ao público o modelo light da cerveja. Com um design diferente e sustentável, a bebida chega com 20% menos calorias do que as chamadas cervejas pilsen e nas versões long neck e latinha. De acordo com os representantes da empresa, o objetivo é colocar a Itaipava na vice-liderança do mercado. Porém, apesar da novidade, esta não é a primeira vez que alguma grande marca aposta na cerveja light. No início da década de 80, por exemplo, a Brahma lançou sua versão, que mesmo com forte apelo de marketing, não caiu no gosto dos brasileiros.
"Não acredito que ela (a cerveja light) vá pegar e acho que a tendência é em outra direção. O consumidor brasileiro está exigindo mais sabor, aroma e diferencial sensorial (independente de teor alcoólico). Apesar de toda a onda antialcoólica que observamos no Brasil, não acho que isso produzirá impactos significativos no consumo," opina o cervejólogo e autor do livro 'Larousse da Cerveja', Ronaldo Morado.
Cerveja leve?
Outrora vista como um símbolo de masculinidade, a cerveja parece estar perdendo sua fama de malvada. Para os especialistas, a mudança de pensamento das pessoas tem influência direta nisso.
"Nota-se que o aumento da renda do brasileiro tem influenciado na procura por melhor qualidade de vida e consequentemente nos hábitos gastronômicos, nos quais se incluem estas cervejas. Portanto, a cada dia temos visto brasileiros conservadores se rendendo à boa nova, tornando-se apaixonados e disseminando esta cultura," explica Marco Falcone, sócio e cervejeiro da Falke Bier, de Belo Horizonte.
Os novos modelos como o a Skol 360º, que também vai pela linha da cerveja mais leve, ilustra a preocupação das gigantes do mercado cervejeiro com este novo perfil de consumidor Todavia, Marco acredita que as empresas ainda pecam muito no que diz respeito ao sabor. "Para diversificar, as companhias promovem a fabricação do que intitulam de Premium, que utiliza os mesmos processos e as mesmas matérias primas, alterando apenas quantidades. O mesmo ocorre com as light, que tem reduzida a intensidade dos sabores, tornando-se mais neutras. Não é o que o público do momento tem procurado," finaliza.
Um dos maiores apreciadores de cerveja no mundo, o brasileiro é um consumidor exigente e conservador e a prova disso é a pouca variedade de cervejas nas mesas de bar ou em churrascos de família. Em quase cem por cento dos casos, as três principais marcas do mercado são as escolhidas. "Os padrões de consumo do brasileiro se modificam lentamente; podemos dizer que somos conservadores. Por outro lado, somos também muito suscetíveis à publicidade. Acredito que boas campanhas de marketing, tocando nos apelos específicos da cerveja light podem dar alguns resultados," diz o Ronaldo.
Sem dúvidas, para conseguir emplacar este novo modelo, a Itaipava vai precisar investir alto em propaganda. Ultimamente, uma das marcas que mais apostou em publicidade foi a Devassa, do grupo Schincariol. A socialite americana Paris Hilton, a cantora Sandy e recentemente o dono da revista Playboy Hugh Hefner foram os escolhidos para divulgar o produto no Brasil. Todo este investimento trouxe lucro para o grupo, que viu seu crescimento chegar aos 20% em 2011.
Ao contrário do que acontece no Brasil, a cerveja light é bem popular nos Estados Unidos. Inventada há mais de 40 anos, o produto é um dos preferidos dos americanos. Um exemplo disso é a Budweiser, que viu sua versão leve superar a tradicional no número de vendas. Ainda de acordo com estudo realizado pela Plato Logic's, consultoria britânica especializada em bebidas, as duas marcas de cerveja que mais cresceram no mundo entre 2005 e 2010 foram a venezuelana Polar e a Presiente Light da República Dominicana, o retrata o avanço do produto.
Em princípio, a novidade será comercializada apenas no eixo Rio-São Paulo. O preço sugerido para a latinha é de R$1,99 e da long neck, R$2,09. A produção vai girar em torno de 80 mil caixas por mês.