“Ninguém vai bater mais forte do que a vida”. Não é “Rocky Balboa”, mas é cinema. Da boca do garanhão italiano para a do Aranha brasileiro. Da ficção para a realidade. Assim é o documentário Anderson Silva: Como Água, que mostra um pouco da trajetória do Spider, o campeão mais duradouro do UFC (Ultimate Fighting Championship), um dos mais temidos lutadores de MMA da atualidade.
O roteiro parece perfeito. A preparação de Silva para um de seus combates mais difíceis, contra o americano Chael Sonnen, em agosto de 2010. O final feliz, com a vitória e a manutenção do cinturão da categoria dos médios, que parecia escapar das mãos do brasileiro, dá um ar de ficção ao filme.
Mas, Anderson Silva é real. Além de mostrar, bem de perto, toda a exaustiva e desgastante preparação para o confronto contra Sonnen, outro grande mérito do documentário é revelar o lado simples, família e companheiro do brasileiro. Um cara que sofre pela distância dos filhos, da esposa, do Brasil. Um cara que lutou bastante (literalmente!) para chegar onde está e que ama o que faz.
“Tento me concentrar o máximo possível e fico imaginando todas as coisas que passaram na minha vida como atleta. E tento ser eu mesmo, ser feliz. Eu sou privilegiado, porque acordo todos os dias e vejo tantas outras pessoas que não têm a mesma oportunidade que eu, uma pessoa que tem alguma deficiência física ou que não pode praticar esporte por conta de alguma doença”, revelou ele, sobre o que pensa antes de entrar no octógono, em coletiva após a exibição fechada do filme para imprensa, na segunda-feira (5), em São Paulo.
O documentário com 76 minutos de duração chega a 200 salas de cinema de todo o Brasil no próximo dia 16 de março. Já foi exibido no Festival do Rio e até ganhou prêmio de melhor documentário estreante, no Festival de Tribeca em 2011, nos EUA. Segundo Vladimir Fernandes, presidente da California Filmes, produtora do filme, o objetivo é bater o recorde de público em documentários nacionais. O campeão é Jango (1984), de Silvio Tendler, que traça a trajetória do ex-presidente João Goulart e teve 900 mil espectadores.
A julgar pelo carisma do protagonista e pelo interesse cada vez maior do brasileiro pelo MMA, é possível que Anderson Silva leve mais esse cinturão pra casa. Porque o dos médios ele mantém há nove duelos, outro recorde. Claro, não foi nada fácil.
O longa mostra toda a tensão que antecede o duelo contra Sonnen, a partir da vitória de Spider contra Demian Maia, no UFC 112, em abril de 2010, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Apesar de manter o cinturão ao vencer, por unanimidade, o americano, Anderson Silva saiu vaiado do octógono e foi duramente criticado por Dana White, o chefão do UFC. O brasileiro foi recriminado por desrespeitar o rival na luta.
White faz ameaças ao brasileiro, apesar de deixar claro que o considera o maior lutador que já passou pelo UFC. Nos dois meses fora do Brasil, Anderson Silva tem de conviver com uma tonelada de provocações de Sonnen, pressões de White e até de seu empresário Ed Soares, que pede maior participação do brasileiro na promoção do evento. Não bastasse a distância da família e a rotina pesada de treinos, o Spider tem de encarar outros adversários fora do octógono.
Na coletiva, ele diz que lida bem com a pressão e as provocações, mas acredita que há limites para promover um evento. “Eu treino arte marcial há muito tempo, desde os meus oito anos de idade, então não existe isso de pressão psicológica comigo, com minha equipe, com meus alunos. A gente passa por diversas situações que você acaba superando”.
Anderson Silva afirma que Sonnen foi irresponsável nos comentários e declarações antes do confronto. O americano chegou a dizer que se alguém faz reverência no Brasil, “chutam sua bunda e roubam sua carteira”, lembrando do gesto de Anderson Silva dentro o octógono, uma tradição das artes marciais. “Ele (Sonnen) foi muito infeliz nos comentários. Se eu tivesse falado do país dele como ele falou do nosso, talvez eu nem tivesse mais a oportunidade de entrar nos EUA de novo. Ele tinha de ser mais respeitoso”, comentou o brasileiro.
Aliás, já existe grande expectativa para a revanche contra o “vilão” americano, que foi suspenso por seis meses pelo resultado positivo no exame antidoping após a luta contra o Spider. O esperado combate está marcado para junho e, depois de muita especulação, tem grandes chances de acontecer em São Paulo, provavelmente no Morumbi (leia nota do colunista Lauro Jardim, na Veja).
O brasileiro já iniciou os treinos para mais uma luta e espera, mais uma vez, ter sucesso com os ensinamentos de Bruce Lee, que inspiraram o título do filme. “Eu sou fã do Bruce Lee, adoro ele. Às vezes, eu até acho que sou a reencarnação do Bruce Lee! Eu treino arte marcial há muito tempo, e eu treinei muito tempo o Wing Chun, que foi a modalidade do Bruce Lee. A filosofia que ele sempre passou da arte marcial é uma coisa que eu tento trazer pra mim e vivo bem com isso. Consigo viver melhor assim o meu dia a dia e minha vida profissional como lutador”.
Para fechar, Anderson Silva se diz feliz com o resultado do documentário e espera que o brasileiro se identifique com sua história e personalidade. “Tenho a plena certeza de que o resultado final foi ótimo. Na verdade, eu fui eu mesmo. É o que eu tento fazer todos os dias. Não ser melhor do que ninguém, ser melhor do que eu sou todos os dias. Foi bacana. Vai servir para as pessoas se identificarem com alguma coisa em algum momento do filme”, analisa ele.
Realmente, é impossível não se identificar com a história desse cara, um lutador de todos os dias, a exemplo de todo brasileiro.
Filme “Anderson Silva: Como Água”
EUA, 2011, 76 min, 14 anos.
Diretor: Pablo Croce
Distribuidora: California Filmes
Facebook: http://www.facebook.com/AndersonSilvaComoAgua