Quando um filme diz que é baseado em fatos reais, isso aguça nossa empatia, embora saibamos que nem todos os detalhes podem ser reproduzidos exatamente como aconteceu de fato. Às vezes é preciso misturar personagens ou alterar eventos para tornar a narrativa mais rápida, caso contrário morreríamos de tédio no cinema -- contar a história de uma vida em duas horas não é uma tarefa fácil.
Por outro lado, essas “adaptações” cheias de boas intenções às vezes podem colocar em xeque a vida de pessoas que inspiraram personagens e situações. Seja transformando inocentes em vilões, parceiros em traidores ou criando motivos para separação conjugal -- é aí que a ficção começa a afetar a vida real. Duvida? Então veja alguns exemplos...
5# TITANIC - William Murdoch
Isso você viu...
Para James Cameron, o oficial William Murdoch (Ewan Stewart) é um zé mané que aceita suborno do vilão do filme, interpretado por Billy Zane, atira em dois inocentes e se suicida com um tiro na cabeça. Pra começar, Murdoch se vende em troca de um lugar no bote salva-vidas, depois se arrepende e joga a grana na cara do namoradinho mau de Kate Winslet. Por não conseguir conter a galera surtada querendo invadir os botes, o oficial se precipita e acaba baleando duas pessoas, dando um tiro contra a própria cabeça depois de ver a merda que fez.
Mas na vida real...
O esforço da produção de Cameron para que Titanic fosse realista não foi o mesmo em relação aos personagens. Murdoch foi mesmo um oficial do navio, porém, ao contrário do que assistimos no cinema, ele não só não era um assassino covarde como também salvou a vida de muitas pessoas. Prova disso é que, em sua cidade natal, na Escócia, há uma placa comemorativa que o lembra como herói. Historiadores dizem que ele morreu afogado enquanto fazia seu trabalho, sem ferir ninguém com sua arma.
4# UM DIA DE CÃO - Sonny Wortzik
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Nesse filme tenso, Al Pacino interpreta o ladrão de banco Sonny Wortzik, que entrega seu parceiro Sal Naturile (John Cazale). Depois de dez horas de negociações com reféns, eles conseguem escapar de carro rumo ao aeroporto. No entanto, em certo ponto da estrada, o agente do FBI que os acompanha sugere que Sonny traia o amigo -- embora se mostre ofendido, Pacino fica em cima do muro. Ao chegar no destino, Sal é assassinado brutalmente, enquanto Sonny se rende e é preso em seguida.
Mas na vida real...
Pra começar, o Sonny verdadeiro não traiu seu parceiro, e só descobriu que o filme o colocava como traidor quando assistiu a obra de Frank Pierson junto a outros 1.300 presos da penitenciária federal onde vivia. Seu nome verdadeiro é John Wojtowicz, e depois desse episódio criminoso teve que passar mais de um ano em isolamento para não ser espancado até a morte pelos prisioneiros. Apesar de Sal ter 18 anos na época do assalto, foi interpretado por um ator de 40 anos.
3# A LUTA PELA ESPERANÇA - Max Baer
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Neste filme de Ron Howard, Russel Crowe faz o papel do lutador de boxe James Braddock, apelidado de “Homem-Cinderela” por ter abandonado a pobreza em meio à Grande Depressão, e se tornado campeão mundial dos pesos-pesados. Ao enfrentar Max Baer (Ivan Drago), que gosta de se gabar de ter matado dois lutadores no ringue -- um morreu na hora e outro semanas após a disputa -- Braddock é alertado até pelo promotor da luta sobre as tendências assassinas de Baer. Enfim, o personagem de Crowe decide ir em frente e não só sobrevive como vence o carniceiro!
Mas na vida real...
O Max Baer da vida real realmente matou um boxeador na lona, Frankie Campbell, porém tudo não passou de um acidente que o perseguiu por toda a vida. Ele chegou a visitar Campbell no hospital, e desatou a chorar quando soube de sua morte. Bem diferente do que vemos no filme, Baer ainda levantou dinheiro para a família de Campbell. Já o outro lutador morreu bem depois de sua luta com Baer, de meningite.
2# ED WOOD - Dolores Fuller
Isso você sabia...
Na película de Tim Burton, Sarah Jessica Parker interpreta Dolores Fuller, a namorada insuportável que dá um pé em Wood (Johnny Depp) por causa de suas amizades estranhas, seu hábito esquisito de vestir roupas de mulher e por ser o “pior diretor de cinema de todos os tempos”. Wood tenta vencer na indústria do cinema e acaba desistindo mesmo de Dolores. No final das contas, ele acaba encontrando outra mulher menos oportunista e vivendo o óbvio “feliz para sempre”.
Mas na vida real...
Ao contrário do que é mostrado no filme, a Dolores Fuller verdadeira diz que o fato de Wood se travestir não a incomodava -- ela se separou dele porque não aguentava mais conviver com um cara que já “acordava bêbado”. Até mesmo Bela Lugosi, apresentado como um grave viciado em drogas, viveu até o 72 anos, enquanto Wood se afundou na bebida e bateu as botas aos 54 anos.
1# JFK - David Ferrie
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Na obra de Oliver Stone, Kevin Costner incorpora o promotor Jim Garrison, que, em 1966, se depara com evidências de que o presidente norte-americano John Fitzgerald Kennedy foi assassinado por grupos anticubanos ligados à CIA. Ao centro da conspiração está um cara chamado David Ferrie, que numa cena flashback é mostrado praticamente como único arquiteto do plano de matar Kennedy. Num determinado momento, Ferrie admite a Garrison que conhece Lee Harvey Oswald (assassino de Kennedy) e que está envolvido com os grupos. Poucos dias depois Ferrie é encontrado morto, deixando um clima de queima de arquivo.
Mas na vida real...
Garrison chegou a reabrir o caso sobre o assassinato de John F. Kennedy, mas a corte norte-americana levou apenas uma hora para considerar tudo uma grande bobagem. Na verdade, o único envolvimento de Ferrie na investigação era o fato de ele ter servido a Patrulha Aérea Civil com Oswald. Fora isso, um portador de distúrbios mentais, Jack Martin, disse o FBI que Ferrie usava “seus poderes hipnóticos para controlar a mente de Oswald”, culminando na morte do presidente. Somente na mente de Stone assassinos homossexuais dançam vestidos de Mozart enquanto planejam o próximo bote, pois o que foi provado até hoje é que Oswald agiu sozinho.