O avanço exponencial da tecnologia sugere que as viagens para o futuro um dia serão mesmo realidade. Se Paul Davies e Stephen Hawking estiverem certos, talvez nossos filhos poderão ter um encontro parecido com o de Joe Simmons (Joseph Gordon-Levitt) em Looper. Na ficção eletrizante de Rian Johnson, Simons vive um assasino aluguel que acaba trombando com seu “eu” do futuro (Bruce Willis) -- e ambos travam um papo reto de homem para garoto.
Numa ocasião tão especial quanto essa, provavelmente nos preocuparíamos mais em saber com quem iremos nos casar aos 50, ou se teremos grana e um bom cargo no futuro. Porém, você já parou pra pensar o que o seu homônimo teria a dizer? De fato, sua mera presença poderia ser um sinal de que as coisas saíram bem diferente do planejado, caso contrário você não se arriscaria numa viagem no tempo.
Como os homens só dormem depois de viverem sua própria história, seria ingenuidade acreditar que seu “eu” maduro te trataria de igual para igual. Afinal de contas, ele conhece cada erro que você vai cometer, cada devaneio pueril que vai se entregar em vez de encarar as verdades mais duras de frente. Ele não está mais fugindo, mas sim conquistando seu espaço -- enquanto você lamenta o erro, sua versão mais experiente aproveita a chance, e com a segurança de um leão sabe rir de si mesmo, como disse Nietzsche.
O Joe do futuro encarna o exemplo dessa transformação de meninos em homens. Ao constatar o choque bruto de interesses e valores com seu “eu” mais jovem, Bruce Willis não perde mais tempo e mergulha de cabeça na trama. Depois dos sofrimentos e contingências dos quais foi vítima, ele não precisa provar nada a alguém, e está disposto a confrontar a si mesmo para salvar sua mulher e “resolver seu assunto”.
Por outro lado, não é preciso esperar a criação de uma máquina do tempo ou ir tão longe quanto Jeremiah McDonald para obter alguns palpites sobre quem você será daqui a 20 anos. Se os conflitos entre pais e filhos não deixam claro o suficiente tudo aquilo que você pretende ou não ser, então vale lembrar: quando somos crianças os pais são nossos heróis, enquanto na adolescência, tornam-se nossos “traidores” -- mas só quando você for um homem irá entendê-los.