Um dos principais símbolos da cultura brasileira, a cachaça integra o time das bebidas mais apreciadas do país. Para sua produção é preciso basicamente de cana-de-açúcar e água.
A bebida, praticamente uma unanimidade nacional, é usada principalmente para preparar as famosas caipirinhas, que em seus mais variados sabores, marcam presença em churrascos, festas e nas fantasias dos gringos que desembarcam no Brasil. O teor alcoólico das cachaças é alto, girando entre 38% e 48% (então, aprecie com moderação).
Milton Lima, pesquisador de cachaças há mais de 20 anos, fala mais sobre as técnicas para identificar a qualidade do produto. "É preciso fazer uma análise sensorial, a cachaça tem que ser viscosa, licorosa e não aguada. Isso você percebe pelas 'lágrimas' deixadas no copo. A coroa (bolhas de ar que aparecem quando a aguardente é colocada no copo) também é outro sinal de qualidade. A boa cachaça é transparente, translúcida e não turva”, finaliza.
O sommelier Valmir Pereira, do restaurante La Fiducia, no Rio de Janeiro, afirma que é preciso anos de estrada para detectar as diferenças entre as cachaças.
"Não há como um leigo saber disso. São necessários anos de experiência, participar de degustações, conhecer aromas e muito estudo do produto. Um leigo corre grande risco de comprar gato por lebre, porque é difícil reconhecer uma cachaça de boa qualidade," justifica.
Serra das Almas
Produzida desde 1998 na Fazenda Vaccaro, em Rio de Contas, na Chapada Diamantina, a Serra das Almas pode ser encontrada em dois tipos, a tradicional branquinha e a ouro. Em 2002, a aguardente ganhou o selo de cachaça orgânica, se tornando assim uma das primeiras no Brasil a receber este tipo de classificação.
O título não foi dado à toa, já que o seu processo de fabricação é dividido em várias etapas. Para começar, a adubação da cachaça é feita de maneira natural e metade do bagaço da cana moído para fermentação é usado para adubar o canavial. A outra parte funciona como combustível para a caldeira, que produz energia a partir do bagaço da própria cana-de-açúcar. Além disso, a cachaça descansa em dornas de aço inox, o que melhora ainda mais sua qualidade e suaviza o sabor.
Cachaça sustentável
Uma das ideias dos fabricantes é passar ao público a imagem de uma cachaça ecologicamente correta, isso se dá pela não adição de agrotóxicos e pela reciclagem dos resíduos que não são utilizados. Outro ponto positivo vem da fazenda, que orienta as famílias e agricultores próximos sobre a importância do consumo e cultivo de produtos orgânicos.
Milton Lima defende a chamada cachaça orgânica. "Ela agrega vários valores, como o fato de não ter adubos químicos e de não ter a queima da cana, isso dá mais propriedade e personalidade à cachaça."
De acordo com a opinião de especialistas, o que diferencia a Serra das Almas das outras é o sabor. Normalmente ao tomar uma dose, pelo forte teor alcoólico, a pessoa faz cara feia e se contorce toda, já que o gosto não é dos melhores. Entendidos do assunto garantem que com a Serra das Almas a história é diferente, o que realmente destoa é o gosto da cana e não aquele cheiro forte de álcool.
Já a cachaça ouro é envelhecida em uma garapeira (tipo de madeira), onde fica por pelo menos dois anos e adquire a cor dourada, que caracteriza a bebida. Seu gosto também não é forte e a sugestão é que ela seja servida gelada.
Presença garantida em churrascos e almoços de domingo, a cachaça, quando apreciada com moderação, é um excelente acompanhamento para diversos pratos, como a feijoada, por exemplo.
"Podemos combinar muitas coisas com a cachaça, vários peixes, carnes vermelhas, carnes brancas e aperitivos. Eu particularmente adoro uma cachaça envelhecida com pimenta biquinho, por exemplo", diz Milton Lima.
O sommelier Valmir Pereira afirma que é preciso combinar o tipo da aguardente com a comida e também perceber a hora de tomá-la. "Existem vários tipos de cachaça e o ideal é prová-la pura antes de misturar com qualquer ingrediente. Ao degustar, é possível descobrir se é melhor servir a bebida como aperitivo ou como caipirinha. Tudo está ligado ao visual olfativo e degustativo."
Valmir Pereira também elege algumas de suas marcas favoritas. "Pra mim, as melhores são Bodocó (de Minas Gerais), Alma Gêmea (Goiás). Também aprecio a cachaça Espírito de Minas (MG), Ypioca, Colonial e Sapupara (essas últimas do Ceará)."
Para apreciar uma Serra das Almas é preciso desembolsar entre R$20,00 e R$40,00.