Mano Brown, pós-graduado em tomar geral “Não confio na polícia, raça do caralho”. O ícone do rap nacional desacatou autoridade e foi pro xadrez mais uma vez gplus
   

Mano Brown, pós-graduado em tomar geral

“Não confio na polícia, raça do caralho”. O ícone do rap nacional desacatou autoridade e foi pro xadrez mais uma vez

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Mano Brown curte um boxe. Praticante do esporte, seus petardos encontram a face da sociedade também graças a sua incrível envergadura para a rima. Com microfone em punho, o truta do Capão Redondo e líder dos Racionais MC’s – que vendeu 1,5 milhão de discos e teve outras 4 milhões de cópias pirateadas em 25 anos de história – se tornou o maior ícone do rap brasileiro. Um sopro de esperança para os marginalizados, Brown é capaz de versar lirismos como “eu que sempre quis um lugar, gramado e limpo assim verde como o mar, cercas brancas, uma seringueira com balança, disbicando pipa cercado de criança” e, sem dom para vítima, posar de anti-herói ao se colocar como apenas mais um no sistema: “Preto, branco, polícia, ladrão ou eu, quem é mais filho da puta eu não sei.”

O sistema. É ele o maior sparring de Mano Brown. Indo pro pau contra o poder público desse jeito, de cara fechada, não é de se admirar que um cidadão que canta “não confio na polícia, raça do caralho” seja sempre alvo da turma de farda. Em 6 de abril de 2015, a casa caiu para o rapper novamente. Brown – que já foi detido em 2004, por desacato, e, cinco anos mais tarde, por suspeita de participar de uma briga de torcida – foi para o xadrez pela terceira vez. É mesmo “suspeito profissional”, como versa; tornou-se de vez o “bacharel, pós graduado, em tomar geral” que tanto fala. O músico estaria com o licenciamento de seu carro e sua habilitação vencidos, segundo o delegado da 37ª DP que o grampeou. Ao ver uma blitz na zona sul de São Paulo, então, ele teria tentado passar sem parar. Abordado pelos polícias, teria ofendido “os óme da lei”.

A desobediência, o desacato e resistência, segundo a versão da PM, foram traduzidas por Eduardo Suplicy – secretário municipal de Direitos Humanos que baixou no DP pra ver “qualé que era” – como agressão. Segundo o ex-senador, torcedor do Santos como Brown e fã declarado dele, o vocalista dos Racionais MC’s recebeu um mata-leão, foi ofendido e derrubado no chão por um forte policial durante a abordagem. Bom, o resumo da ópera é que Brown assinou um termo circunstanciado e foi liberado às 21h de ontem. Na hora, imaginei o rapper sussurrando entre os dentes, “mano, não devo, não temo, e dá meu copo que já era!”, como faz em “Vida Loka (parte 1)”, um de seus hinos. Essa história ainda vai dar samba – no caso, provavelmente, rap. Aos 44 anos, Pedro Paulo Soares Pereira, o Mano Brown, é perito em dar na fuça das autoridades (ir)responsáveis pela segurança do povão. Listamos doze mantras dos Racionais MC’s que mostram porque o rapper do Capão, preto desde nascença, escuro de sol, é persona non grata na roda da função dos gambé.  

#1 “Vão invadir o seu barraco, é a polícia! Vieram pra arregaçar, cheios de ódio e malícia, filhos da puta, comedores de carniça! Já deram minha sentença e eu nem tava na ‘treta’, não são poucos e já vieram muito loucos. Matar na crocodilagem, não vão perder viagem” (Homem na Estrada)

#2 “Ratatatá, caviar e champanhe, Fleury foi almoçar, que se foda a minha mãe! Cachorros assassinos, gás lacrimogêneo. Quem mata mais ladrão ganha medalha de prêmio!” (Diário de um Detento)

#3 “Aquele moleque, que sobrevive como manda o dia a dia... Conhece puta, traficante e ladrão. Toda raça, uma par de alucinado e nunca embaçou. Confia neles mais do que na polícia. Quem confia em polícia? Eu não sou louco!” (Mágico de Oz)

#4 “A Justiça Criminal é implacável. Tiram sua liberdade, família e moral. Mesmo longe do sistema carcerário, te chamarão para sempre de ex-presidiário. Não confio na polícia, raça do caralho! Se eles me acham baleado na calçada, chutam minha cara e cospem em mim, é. Eu sangraria até a morte... Já era, um abraço! Por isso a minha segurança eu mesmo faço” (Homem na Estrada)

#5 “A polícia cresce o olho, eu quero que se foda! Zona Norte a bandidagem curte a noite toda. Eu me formei suspeito profissional. Bacharel pós-graduado em tomar geral" (Em Qual Mentira Vou Acreditar?)

#6 “Preto, branco, polícia, ladrão ou eu, quem é mais filha da puta, eu não sei!” (Fórmula Mágica da Paz)

#7 “A polícia sempre dá o mau exemplo. Lava a minha rua de sangue, leva o ódio pra dentro. Pra dentro de cada canto da cidade. Pra cima dos quatro extremos da simplicidade” (Mágico de Oz)

#8 “A polícia passou e fez o seu papel. Dinheiro na mão, corrupção a luz do céu.” (Mágico de Oz)

#9 “500 anos o Brasil é uma vergonha. Polícia fuma pedra, moleque fuma maconha...” (Otus 500)

#10 “Eu tô ligado, eu sei quem é quem. O super-homem de bombeta vai matar alguém. Sendo refém de espíritos malignos, mal intencionado, cínico, leviano, indigno. Fui obrigado a conviver com isso. Com uma quadrada e um velho crucifixo. É sempre bom andar ligeiro na calada. A vida não é um conto de fadas” (Expresso da Meia-Noite)

#11 “O Robocop do governo é frio, não sente pena. Só ódio e ri como a hiena. Ratatatá, Fleury e sua gangue vão nadar numa piscina de sangue” (Diário de um Detento)

#12 “Ô, que caras chato, ó! Quinze pras onze, eu nem fui muito longe e os óme embaçou, revirou os banco, amassou meu boné branco, sujou minha camisa dos Santos” (Em Qual Mentira Vou Acreditar?)


Rodrigo Cardoso