Dizem que a roda da originalidade na música gira alguns graus a cada dez anos. Mas pela primeira vez na história, os primeiros anos do século XXI deixaram claro que nenhum estilo deve dominar 'a cena' sozinho. Ao contrário das décadas anteriores e seus movimentos, hoje a tecnologia permite que qualquer um faça a mistura musical que quiser, e também venda seu som pelo preço que desejar. Afinal de contas, somente os melhores resistem ao teste do público. E para separar o joio do trigo, a consagrada revista Rolling Stone juntou mais de 100 artistas, críticos, e informantes da indústria para eleger as 100 melhores músicas da década. Veja quem são os sete artistas que encabeçam o ranking:

Não é todo dia que ouvimos uma balada soul nervosa e um punk clássico na mesma faixa, certo? Karen O comprova seu talento ao canalizar quase que por milagre Siouxsie e Sam Cooke em Maps. Dá pra notar o sofrimento em sua voz quando ela geme a palavra “wait” – mas logo Nick Zinner e a bateria de Brian Chase chegam para socorrê-la.

Usando um pedal de efeito pra fazer a guitarra parecer um baixo, Jack White canta sobre um ódio tão foda que é capaz de fazer um cara pensar que é capaz de enfrentar um exército inteiro sozinho. Com sete notas, o roqueiro criou o melhor riff da década e um hit tão poderoso que projetou The White Stripes para o mundo.

Nesta faixa, a rapper Maya Arulpragasam ameaça roubar seu dinheiro de uma forma alegre e com uma batida sampleada da faixa “Straight to Hell” do The Clash – tudo salpicado de sons de caixas registradoras, tiros de espingarda e vozes de crianças das favelas do Terceiro Mundo.  No ano seguinte ao lançamento de “Paper Planes”, o trailer de Segurando as Pontas (2008) fez o improvável: levou o sarcástico jam de protesto para o topo das paradas. 

Mesmo depois de tanto tempo, o hit do OutKast soa tão estranho e fantástico quanto na primeira década do século XXI. Uma verdadeira ‘salada’ de gêneros musicais feita de violões, palmas e instruções de dança – além do charme funktástico de Andre 3000. Daqui a 50 anos os adolescentes ainda vão se perguntar o que é uma foto de Polaroid.

Os trompetes não são apenas uma sacada de introdução triunfal: são a proclamação da nova rainha do Pop. O carro-chefe do álbum de estreia de Beyoncé, que se apoderou da explosão de metais dos Chi-Lites, anunciava sua libertação do Destiny’s Child, e a consagrou na sua (maior e mais audaciosa) carreira solo.  

Jay-Z apostou no repeat de percussão go-go com um crescendo hard-rock em seu Black Album, o que resultou numa pegada Ice T carregada de guitarras de metal. Foi o balanço mais descolado que Rick Rubin fez desde os anos 1980. Além do mais, a faixa aliviou a barra da Beyoncé, que não está na lista de problemas do maridão. 

Finalmente, nesta década fragmentada, a ideia de um hit pop que qualquer um pudesse gostar parecia uma noção ultrapassada. Pelo menos até que esses caras aparecerem. O rapper Cee-Lo e o produtor indie Danger Mouse um dia decidiram que seria legal fingir que eles eram o maior grupo pop do mundo, então lançaram “Crazy” em 2006. Todo mundo adorou a música, desde a sua mãe até o professor de artes da sua ex. Gnarls Barley juntou ideais geniais que valem uma carreira inteira num groove de apenas três minutos – e então simplesmente desapareceu. Isso faz deles loucos? Provavelmente. Mas será que foi o melhor hit pop da década? “Totalmente”, garante a Rolling Stone.